ESCURIDÃO

escuridão

sobre os telhados orgulha-se

de ser escuridão

a asa negra

do anjo negro

de madrugada

paira suave a despeito da lua

eu nada vejo

eu nada sei

ainda que tentem

me convencer do azul

do amarelo

sinto que todas as cores são falsas

o vermelho, o verde, enfim, todas são ilusões

de luz

o breu absoluto

a cegueira

o nada.

escuridão

sobre as cabeças orgulha-se

de ser escuridão

a língua negra

da serpente negra

desafia com a noite

a pálida autoridade da lua

eu nada vejo

tu nada vês

ainda que desperto

ao cume da meia-noite

ao pé do céu

que reflete o chão

e vice-versa

num sem fim

o tempo morto

a alienação

o nada.