Porta-relíquias - PARTE 4 (A relíquia) - PARTE 5 (A gaveta do futuro)

(continuação do poema PORTA-RELÍQUIAS. Se preferir,

conheça as partes 1, 2 e 3 nas publicações anteriores)

QUARTA PARTE

A Relíquia

XIV

Nessa gaveta se aninha

um rol de novos pertences:

vem quem sempre veio e quem

se preparava e não vinha,

depois quem foi sempre a minha

mais romântica esperança;

vem – suave, terna, mansa –,

dando sentido à poesia...

era a mulher que eu queria

desde os tempos de criança!

XV

Assemelhando-se à brisa,

tem o poder de um afago;

como o remanso do lago

onde o arbusto desliza;

em silêncio, sinaliza

o destino, a trajetória;

na derrota ou na vitória

já faz parte do meu ser:

é quem me ajuda a escrever

cada página da história.

XVI

Vem exigente e se instala

onde ninguém poderia:

nos raios do novo dia,

nas pausas de cada fala.

Vestiu com trajes de gala

minha esperança perdida

e ajustou, sob medida,

os rumos da minha estrada

e se fez a minha amada

na longa estrada da vida.

QUINTA PARTE

A gaveta do futuro

XVII

Tudo posso, porque vou muito além

do que o tempo gravou a ferro e fogo.

Hoje sei quais as regras desse jogo,

mas não jogo com as regras de ninguém.

Guardo tudo porque quem guarda tem

e feliz é quem tem o que guardar;

guardo, pois, meu tesouro em seu altar

e o preservo na arca do intangível,

só assim vôo em busca do impossível:

estou pronto e conheço o meu lugar!

XVIII

Que me venham futuras emoções,

ser-me-ão as relíquias do futuro.

Preparei seu lugar, nobre e seguro,

no aconchego das outras sensações.

Hei de expô-las, mas tais exposições

só são vistas por quem vê mais além.

Há de vê-las de fato apenas quem

aprecia os mais nobres sentimentos,

porque apenas os olhos mais atentos

são capazes de ver como convém.

XIX

Estou pronto! – e aquilo que vier

traga em si mais candura que aflição;

seja abraço onde houver separação

e amor onde o amor não estiver

e em tudo que acaso me trouxer

faça eterno o que ainda é tão fugaz;

que eu descubra a grandeza que me traz

e a beleza daquilo que há de vir;

que eu consiga com todos repartir

o universo de amor, candura e paz.

XX

Que eu também seja leve como a brisa,

pra quem mais necessita meu afago;

que eu me faça um remanso em cada lago

ao mais frágil arbusto que desliza;

que o silêncio de quem me sinaliza

tenha em mim seu destino e trajetória;

que eu respeite a derrota ou a vitória

como parte inerente do meu ser:

sendo assim saberei como escrever

meu futuro nas páginas da história.

São Paulo, noite de 7 para 8 de fevereiro de 2011