ALÉM DOS OLHOS



Era tudo um nevoeiro,
Que a alma nunca lhe passa
Em toda a ânsia de luz e gozo,
Sempre aquele olhar ansioso

Olhava da solidão,
Onde se sentia presa,
Com a natural tristeza
Dos ferros de uma prisão...
À espera sempre da hora
Que lhe raiasse a aurora!

Bem a chamavam de cá
Sempre os cuidados do dia;
Ela, que nunca os ouvia,

Vê com uns olhos de espanto
Romper-se a névoa geral;
E como um sol recortado
Nesse mar enevoado...

E dentro desse  círculo de prata,
Que imagem se lhe retrata,
Fosse verdade ou visão?
A mesma que ela apertava
Nos braços quando sonhava.

Mas a visão,
De vir cair-lhe nos braços,
Voa por esses espaços
Até já mal se avistar...
Indo assim a luz minguando
E indo-se a névoa chorando!

E hoje a minha alma, não sei
Se nessa névoa vê tal visão
Ou nem já vestígios vê...
Sei que se ainda me anima,
É de olhos o que sonho a vida.



( Esse texto tem em si, muito do hoje...momentos que nos absorvem além dos olhos, da pele, do coração...como se tudo o mais fosse ilusão e o hoje fosser um lacrimejar vertendo a minha razão...um sentir além da emoção...)

Fernanda Mothé Pipas
Enviado por Fernanda Mothé Pipas em 13/02/2011
Reeditado em 13/02/2011
Código do texto: T2790158
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