AVESSO
O que há aqui por dentro, invisível
à luz de qualquer olho mais atento.
é tanta fantasia e movimento
que brinca em meu olhar perceptível.
O que há neste avesso, intranquilo,
onde um verso se compôs desde o começo
são marcas do que eu canto ou padeço...
são os tons reais, que moldam o meu estilo.
O que há neste outro lado, oculto ao mundo
é mistério, papel branco rabiscado,
um pouquinho que conheço, revelado...
e um grande espaço a frente, um poço fundo.
O que há por descobrir sobre o que sou,
é imenso lago manso, ou furacão,
dependendo do que colho com paixão,
ou da serenidade em que estou.
O que há de colorido, alegre ou puro,
é maior, se sussurrado ao pé do ouvido,
pois transborda, se esparrama nos sentidos,
dessa paz que se acostuma ao céu escuro.
O que há que se rebela e vem a tona
é o mar azul, pintado na aquarela...
que existe interna e ao riso se revela,
que o simples da amizade impulsiona,
O que há é o gosto tanto do presente,
é o sonho permanente e atrevido,
é o doce do saber a ser sorvido,
um imenso e claro anseio de ser gente.
O que há contrário a tudo e até banal
é a simplicidade como escudo...
diante dos algozes não ser mudo ,
é o olhar teimoso, astuto, original.
O que há pelo avesso é poesia
é o belo da palavra em adereço,
é o toque do amor onde abasteço...
a fonte que transborda dia a dia.