O ENFARTADO CANTO DO PÁSSARO.
Saudade sempre de faz tarde,
sempre se cospe tragada pelas mãos trêmulas sem fé.
Saudade são corpos encardidos, elameados e encravados num suor gosmento e quebradiço,
se decanta ao pé da nossa cova feito decoração de quermesse,
nos conduz ao altar da luz com seus estilhaços de feitor doida para uma nova chibatada.
Saudade é uma terra sem lei, sem sombra, sem cheiro,
quando tudo se vira de costas é ela que fará a nossa sombra,
quando tudo escorrer pelas mentiras dos nossos poros, é ela que fará
as honras da casa com a delicadeza de uma ama-seca.
Saudade é um enferrujado beijo que damos num corpo putrefato qualquer,
é uma flor descaulada, um sonho que se partiu em mil pedaços e se abueirou no meio do vendaval,
é um sino que vibra sem clamar por trégua, um velho sofá que está esperando a hora em que alguém repousará nele.
Saudade é a vontade de esmurrar o dilatar das pupilas,
é o desejo de ficar estátua diante do banquete derradeiro,
é o último pensamento do condenado antes de o carrasco abrir seu cadafalso.
Saudade é aquela fé transformada em carniça, é o colo da mãe entornando cacos de vidro, é a vontade de querer voltar no tempo quando ele virou pó, somente pó.
Saudade é poder olhar em volta e perceber que os nossos fantasmas subiram no picadeiro só pra saltar no escuro, no calado, no enfartado canto de um pássaro qualquer.
Conheça o meu site www.vidaescrita.com.br
Saudade é a vontade