[O Longe Acerca-se de Mim]
É madrugada... acordo.
E outra vez, surgida do âmago da noite,
aquela rosa vermelha já se abriu,
túrgida, em minhas mãos carentes;
o meu ardor vai se esvair em nada...
A noite, os sonhos... avultam os enigmas.
Forçoso me é inverter o argumento:
o que farei para conter esta ânsia
quando o que está longe se aproxima,
e insinua-se em minha mente;
instila-me, lúbrico, o seu veneno,
na boca seca, nas narinas, nos olhos?
Quando a rosa vermelha murchar,
haverá apenas o cansaço inútil,
e o dia vai apenas raiar outra vez.
O Universo distante olvida-se de mim,
a minha ausência nunca será uma falta;
clareia a manhã, clareiam os enigmas!
[Penas do Desterro, 11 de fevereiro de 2011]