Nosso Encontro
Meu amor:
Escrevo-te, pois tenho de marcar um encontro contigo, num sítio em que ambos possamos falar...sem que possa haver interferências do mundo...esse sítio podia ser, até, um lugar sem nada de especial, uma praça, um canto de café, em frente de um espelho que poderia servir de pretexto para refletir a alma, a impressão da tarde, antes de nos despedirmos, quando é preciso encontrar uma fórmula que disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer.
É que o amor nem sempre é uma palavra de uso, a não ser que nos fale, de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nós leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio ser, como se uma troca de almas fosse possível neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e me peças:" Vem comigo!", e devo dizer-te que muitas vezes pensei em fazer isso mesmo. No entanto, ao escrever-te para marcar um encontro, sei que é irremediável o que temos para dizer um ao outro: a confissão mais exata, que é também a mais absurda, de um sentimento; e, por trás disso, a certeza de que o mundo há de ser outro no dia seguinte, como se o amor, de fato, pudesse mudar as cores do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos encontrar, que há de ser um dia azul, de verão, em que o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas, que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.
Mais que te dizer, tenho a lhe mostrar..por isso meu amor, a tanto já sentido...com um beijo selarei todas as nossas juras, em meus carinhos eternizarei este pulsar...marque a hora, o dia e o lugar...pois lá irei te encontrar e nunca mais despedidas...caminharemos juntos em unidas vidas.