:::Paradoxos:::
E assim...
Vive o mundo...
Na verdade omitida pela mentira
Na mentira que no fundo é verdade
Em uma calma e compreensível ira
No desleixo da suprema vaidade
No sorriso que sorrindo se entristece
Na lágrima da alegria escondida
No gelado coração que se aquece
Na realidade de uma ilusão sobrevivida
Na fome de uma falsa satisfação
Na educação reprimida pela arrogância
Em atitudes certeiras de indecisão
No adulto que no fundo vive "infância"
Na criança brincando de ser adulto
Na roda gigante que nunca girou
Na explícita vontade de ser oculto
Na busca incansável do que já bastou
No importa-se com quem não se importa
Na ajuda que de nada pede tudo
Na palavra indefesa que no fundo corta
Do que falando aos ventos fica mudo
No amor de um passado tão presente
No amigo revoltado com a amizade
Na igualdade de um mundo diferente
Presos em uma errada liberdade
Na pobreza da riqueza infeliz
Que de muita coisa se fez pouco
No querer incessante do que não se quis
Na lucidez incrível de um louco
No vazio de um coração cheio de dores
No encontro que o acaso desencontrou
Do poeta apaixonado sem seus amores
Da solidão na multidão que se cegou!