POEMETO ENJOADÃO
Às vezes, quando quero escrever um poema
Muito lindo lindo lindo
Eu fico pensando nos poemas do Bandeira
- meu mestre poeta, o meu poeta mor -
E fico pensando, imaginando:
Se eu pudesse roubar um desses versos
Ou então umas migalhas de inspiração
de sua Musa,
Então... ah! como eu estaria satisfeito.
Se eu pudesse só imitá-lo
Como um brasileiro que não sabe falar espanhol
Assim já me sentiria quase não tão mal...
Ou então, se eu pudesse ser tão repetitivo quanto
CDA, o Poeta dos Poetas,
E se pudesse fazer um poema assim, como ele fazia
Como "Tinha uma pedra no meio do caminho"
Falando sempre a mesma coisa sem cansar
A mim nem a ninguém
E se todos que lessem meu poema quisessem repetir
A leitura
Só pra continuar pensando na frase que estivesse
Escrita
E se esse poema fosse tão bom, mas tão bom, mas tão bom
Que eu não quisesse mais fazer nenhum poema
Como o pai que se contenta com seu único filho
Eu seria o maior poeta do meu bairro, se eu pudesse
Fazer um poema assim...
E se eu pudesse fazer um poema difícil como os do Leminski
Ou os poemas do Quintana - tão simples
E tão complexos ao mesmo tempo!
Se eu pudesse dizer coisas complexas
De um modo tão simples, que mesmo quem não entendesse
Lhes achasse graça, aos meus poemas simples-[des]complexos;
Ou se eu pudesse dizer as coisas simples
Mas duma forma que não as deixasse tão simples
Ao ponto de ninugém achar graça
Eu seria deveras um poeta merecido de honra...
Se eu pudesse ser tão sonhador e tão criativo
E tão bom poeta
Como o Pessoa...
Ou se pudesse fazer combinações incríveis
De poética e outras coisas
Como o A. dos Anjos...
Ou se pudesse fazer poemas tão engraçados
E tão brasileiros
Como os de Osw. de Andrade...
Mas tenho só este desejo intenso
Este desejo de ser e de criar, e de poetizar
E de inventar e mudar, e transformar
E fundir, e tudo...
E este desejo de tudo
Me traz tudo ao pensamento
E é pensando em tudo
Que faço os meus mais modestos -
Tão pobres e tão singelos, mas tão cheios de desejos -
Os meus poemas.