UM POEMA DE AMOR SEM LIRISMO
(Ou um poema lírico sem amor...)
I
Sorte de todos,
o poema que pensava ainda agora
era muito pior do que conseguirei escrever.
Garrafa pela metade e um copo ainda cheio
a olhar para mim do profundo vazio da mesa
e das mesas ao lado nem nada nem olhar.
Tudo que se pensou poema perdi tendo que voltar
e coisa boa não era nem nunca foi há tempos...
Havia de ser a hora de o lirismo acabar, sim
de me deixar sozinho ao voltar para casa
esquecido dos poemas duros que ia escrever.
Tenho medo de mim, e é muito medo de mim
tudo que tenho assim dias assim medo de mim,
Não sei com que passos subo a escada
não sei com que vida chego aqui em casa
com que resto do que resta de mim, do que não resta
atravesso as árvores do parque esquecidas de mim
esforço passos por entre lembranças tantas
um banco entre pedras e aquelas fotografias
e sei que ninguém vai entender, mas chega!
Aqui não tem mais poesia, mas a verdade dela
e me deixem tecer minhas mágoas entre palavras
me deixem afogar as lágrimas entre sopros de nada
e não fiquem a me julgar assim tão magnífico,
tão consciente desses males que me assolam
a noite cai solitária sobre mim avassaladora
e eu tenho que dizer tudo que não tenho
que dizer ou ser ou pensar ou coisa que valha
meus dedos sobre as teclas e palavras do nada
alguma coisa que saia um último grito aflito
por favor, me deixem em paz para morrer.
II
Poesia! Quem diria que eu diria que é poesia
esse asco de tudo, esse nojo, esse torpor
quem diria que eu me lamentaria tudo por tudo
quem é que vai ler e entender, quem vai saber?
Que aqui mato o que jaz há muito em mim
morto e sem sentido, sem qualquer significado
Esse grito, essa súplica, essa merda que se cale
de uma vez por todas e são os dedos que dizem
que fumei demais, bebi demais, vivi demais
e amei demais tudo o que vivi, amei e vivi
Vivi e não pude mais amar além do passo
além do pensamento, além do momento
além do tempo, da vida, da verdade
e não fui além dessa realidade.
Leiam tudo e não tentem entender
não queiram e nem possam, não ousem
Eu sigo em frente e sigo com a vida
como querem e esperam, como mandam
sem esse querer que se quisesse me amava
mas não ama e nem ama e nem mais amará
quem quer e precisa de amor quando nada tem
ou quando tem a ilusão de todas as palavras?
III
Vê? É facil estilhaçar todos os silêncios
e enterrar as palavras em esquecimentos
Vê? É fácil deixar para trás tudo de si
tudo de mais precioso na vida.
Basta um tanto de poesia para enganar
para dizer que outros tempos viriam
que tudo pode recomeçar e acaba
que acaba de acontecer ao saber
que todo tudo era somente um nada.
Lirismo de merda e inútil, infundado
não tem cor nenhuma esse futuro
enterramos todo o passado, passou
enterramos o desejo não querendo mais
eu sigo em frente, se queres, eu sigo
persigo esses cacos do que restam
por adorar chafurdar escombros...
Quando me pensar, esqueça!
Quando me esquecer nem pense
nem sinta a saudade que não se faz
que não importa de tudo que não volta
volta e anda o amor sem lirismo
e sem esperança, sem qualquer lembrança
do amor que enterro aqui nessas palavras
nas palavras que enterro no silêncio...
(Ou um poema lírico sem amor...)
I
Sorte de todos,
o poema que pensava ainda agora
era muito pior do que conseguirei escrever.
Garrafa pela metade e um copo ainda cheio
a olhar para mim do profundo vazio da mesa
e das mesas ao lado nem nada nem olhar.
Tudo que se pensou poema perdi tendo que voltar
e coisa boa não era nem nunca foi há tempos...
Havia de ser a hora de o lirismo acabar, sim
de me deixar sozinho ao voltar para casa
esquecido dos poemas duros que ia escrever.
Tenho medo de mim, e é muito medo de mim
tudo que tenho assim dias assim medo de mim,
Não sei com que passos subo a escada
não sei com que vida chego aqui em casa
com que resto do que resta de mim, do que não resta
atravesso as árvores do parque esquecidas de mim
esforço passos por entre lembranças tantas
um banco entre pedras e aquelas fotografias
e sei que ninguém vai entender, mas chega!
Aqui não tem mais poesia, mas a verdade dela
e me deixem tecer minhas mágoas entre palavras
me deixem afogar as lágrimas entre sopros de nada
e não fiquem a me julgar assim tão magnífico,
tão consciente desses males que me assolam
a noite cai solitária sobre mim avassaladora
e eu tenho que dizer tudo que não tenho
que dizer ou ser ou pensar ou coisa que valha
meus dedos sobre as teclas e palavras do nada
alguma coisa que saia um último grito aflito
por favor, me deixem em paz para morrer.
II
Poesia! Quem diria que eu diria que é poesia
esse asco de tudo, esse nojo, esse torpor
quem diria que eu me lamentaria tudo por tudo
quem é que vai ler e entender, quem vai saber?
Que aqui mato o que jaz há muito em mim
morto e sem sentido, sem qualquer significado
Esse grito, essa súplica, essa merda que se cale
de uma vez por todas e são os dedos que dizem
que fumei demais, bebi demais, vivi demais
e amei demais tudo o que vivi, amei e vivi
Vivi e não pude mais amar além do passo
além do pensamento, além do momento
além do tempo, da vida, da verdade
e não fui além dessa realidade.
Leiam tudo e não tentem entender
não queiram e nem possam, não ousem
Eu sigo em frente e sigo com a vida
como querem e esperam, como mandam
sem esse querer que se quisesse me amava
mas não ama e nem ama e nem mais amará
quem quer e precisa de amor quando nada tem
ou quando tem a ilusão de todas as palavras?
III
Vê? É facil estilhaçar todos os silêncios
e enterrar as palavras em esquecimentos
Vê? É fácil deixar para trás tudo de si
tudo de mais precioso na vida.
Basta um tanto de poesia para enganar
para dizer que outros tempos viriam
que tudo pode recomeçar e acaba
que acaba de acontecer ao saber
que todo tudo era somente um nada.
Lirismo de merda e inútil, infundado
não tem cor nenhuma esse futuro
enterramos todo o passado, passou
enterramos o desejo não querendo mais
eu sigo em frente, se queres, eu sigo
persigo esses cacos do que restam
por adorar chafurdar escombros...
Quando me pensar, esqueça!
Quando me esquecer nem pense
nem sinta a saudade que não se faz
que não importa de tudo que não volta
volta e anda o amor sem lirismo
e sem esperança, sem qualquer lembrança
do amor que enterro aqui nessas palavras
nas palavras que enterro no silêncio...