Almirante Negro
Ele sabia
Da textura
Da nervura
Das paredes...
Ele sabia
Do significado
De cada desenho
Que ali estava...
Ele sabia
Da respiração rarefeita,
Do pouco oxigênio
Do recinto...
Ele sabia
Do tamanho exato
E estreito
Da janela
Da cela...
Ele sabia
Do ácido gosto
Da urina
Que tinha de beber
Para manter-se
Vivo...
Ele sabia
Das lembranças
Dos castigos corporais,
Dos açoites
Dos marinheiros...
Ele sabia
Do silêncio,
Do vazio
Entrecortado
Por gritos
Lancinantes
De horror...
Ele sabia
Do odor pútrido
Da cela
Em que vivia...
Ele sabia
Da solidão
Pétrea
Que era sua única
Companheira...
Ele sabia
Das alucinações,
Da loucura
Que já se lhe
Acometia...
Ele, de tudo isso,
Sabia...
Mas, não adiantou,
Em vida,
Saber...
(Danclads Lins de Andrade)
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N.A: Homenagem a João Cândido, líder da Revolta da Chibata e anistiado quase 100 anos após a revolta, em 2008 pelo Presidente Lula.