TODAS, TODAS, TODAS AS PORTAS

Há os vãos,

Os alçapões pesados

Dos desvãos

Há os trincos,

As fechaduras

Os degredos,

Os segredos,

Há de haver...

Há um vento que surrupia

Os chãos

Ao entrarem em oressas

Às madeiras frias...

Há correntes que

Formam retas,

Erguem-se tortas

Em curvas avessas

À direção inversa da janela...

Há a pressa

De antever

O que interessa....

Que a porta balança,

Range as dobras

E logo se fecha

(Coragem de querer saber,

Há de haver...)

Há a falta de luz

E a fraca luz amarela

Que conduz

À sensação do derredor...

Há o fitar exangue,

A visão entregue

Daquele que pouco vê

E enxerga a negra cor

(Vê bem o que não vê

E crê no que pode...)

Há a porta fechada,

Lacrada

De possíveis

Impossibilidades...

Há um queixo torto

No desleixo

D’uma brecha entreaberta,

Displicente, quase entregue

À visão indisposta

Do que acontece porta afora...

Há os corpos

Muitos corpos

De carnes bem-dispostas...

Há os atos impostos

Por detrás

Das vidas decompostas

Ao longo das portas...

Toma-me o vai-e-vem

Dessas costas arcadas...

Há, sim, alegria,

E há, pois não, o desdém

Do atravessar dos batentes...

Ouço murros:

Uma porta batida

D'outro lado, ninguém...

(Uma outra bate também...)

Percebo raivas, mágoas

Fendendo portas recentes

Fincando-se nos batentes,

Nos horizontes das soleiras...

Saraivadas de emoções minhas,

Represadas, aos montes...

Há a porta de ontem

De aquém

E aquela de

Além de além-nada

Essa está estancada

Com há de ser

Esperando o tempo

Enferrujá-la...

Há de abrir-se,

Por fim, uma porta festejada...

Descoberta do suor

Do meu transpor

De tantas e tantas portas...

Essa... mais do que tudo,

Mais do que nada

Ah, mesmo por ser arrombada,

Essa porta há de haver...