À MINHA MULHER

Quando eu morrer, se for antes de ti,

e estiver no caixão, cheio de flores,

quero que não esqueças do que pedi:

ergas a cabeça e, por favor, não chores.

Não quero ficar exposto à curiosidade

pública por muito tempo, já gelado,

e as pessoas, sem nenhuma piedade,

falando sobre mim e do meu passado.

Quero um velório sem tristeza,

ninguém falando sobre fracassos,

que todos falem com franqueza,

mas sem mencionar os percalços.

Quero alegria contagiante,

muita música, principalmente samba;

quero um ambiente vibrante,

se for possível, com uma banda.

Não quero – atenção - ser incinerado,

pois virar cinza me incomoda.

Espero, pois, morrer despreocupado,

sem essas frescuras da moda.

Como gosto de coroa, até as de flores,

gostaria de ficar cercado delas,

pois adoro as diferenças de cores,

que constituem formas belas.

Quando chegar o crucial momento,

aquele de que não gostam os vivos,

comuniques que retardar o sepultamento,

por mais que se queira, não há motivos.

Mandes, então, uma canção entoar.

Embora saiba que morto perde a audição,

restar-me-á o consolo da alma assimilar

aquilo que foi desejo do coração.

Se, quando se quer, conseguir é possível,

penso que não encontrarei embaraços,

levantar-me-ei do caixão horrível,

e, correndo, voltarei para os teus braços.

levy pereira de menezes
Enviado por levy pereira de menezes em 30/10/2006
Reeditado em 31/07/2007
Código do texto: T277765