CRIANÇA NOBRE CRIANÇA
CRIANÇA NOBRE CRIANÇA
BETO MACHADO
SADIA ÉS TU,
CRIANÇA PÁLIDA,
QUE, ORA, VEJO
ENTREGUE AO ORA VEJA
E AS LODOSAS ÁGUAS DESSE MANSO RIO
QUE NOS TEUS PÉS PRODUZ FRIEIRAS
MAS NA TUA BOCA PÕE UM PEIXE...
AS VEZES.
SADIA ÉS TU,
CRIANÇA VESGA,
QUE MESMO SOB UM CÉU
NEVOENTO OU TURVO,
CAMINHAS FIRME, ALÉM ATÉ
DO HORIZONTE QUE CHAMAMOS ESPERANÇA.
SADIA ÉS TU,
CRIANÇA DESNUTRIDA,
QUE NÃO PERECES DIANTE DUMA FALTA A TOA
COMO EU QUE TENHO A MINHA MESA FARTA.
SADIA ÉS TU,
CRIANÇA MALTRAPILHA,
QUE, NUM ENREGELANTE INVERNO,
OSTENTAS A MESMA MORTALHA
QUE, NUM VERÃO FERVENTE,
VAZOU SUOR POR ENTRE AS MALHAS.
BENDITA SEJAS TU, CRIANÇA, NOBRE CRIANÇA.
PORQUE BENDITA TAMBEM É A ÁGUA DESSE MANSO RIO
QUE TE MOLHA OS DEDOS, TE SACIA A FOME,
TE PRODUZ ENDEMAS, TE ARREBATA A SEDE
E SEGUE COMOTU, POR UM CAMINHO JÁ TRÇADO.