Velho desconhecido
Meu pai ficou velho...
Envelheceu longe de mim.
Onde ficou aquele homem gigante
que hoje tem cabelos brancos,
fragilizados pelo tempo?
Não lembro de ensinar-me a tabuada
Não lembro de guiar-me na bicicleta
Não lembro de brincar em praças
Tão pouco lembro de vivências.
Tenho saudade de lembrar nada
como foi o tempo em que não vivi com ele
É o que tenho para lembrar...
Não tenho lembranças de seu colo
De sua mão firme
De seu sorriso para aconchegar no meu presente
Vazio, sem passado
Esquecido por sofrimentos abafados
Por momentos inexistentes.
Apenas saudade de algo abstrato.
Sua voz ficou mais trêmula
Ele um pouco mais curvado.
Tanta experiência e vivência
sem partilhar comigo e vice -versa!
Tempo calado por um peito sem palavras
Sem carinhos, sem compreensões.
Não tenho dó ou outro sentimento.
Como sentir algo agora
e neste espaço vazio?
Que saudade daquele tempo que não existiu
só na imaginação de ter estado lá
sem palavras sábias ou erradas.
Por um caminho paralelo
onde mãos não se tocam
abraços não se trocam
mentes não se misturam.
Apenas vêem o mesmo pôr-do-sol
pois vão pro mesmo lado
mas usufrui-se de nada
porque são caminhos paralelos
separados por um espaço vazio.