Alma vadia
Na escrivaninha do poeta
Há sempre uma gaveta
Com folhas velhas, amassadas
São rascunhos que ele enjeita
Palavras que ele vomita
Por vezes são obras de arte
O poeta não se enxerga
É rude como uma pedra
Escarnece da própria escrita
Já nem em si acredita
É turrão como o asfalto
Na alma guarda a saudade
É actor sem ter idade
Cobre-se dessa vaidade
De fazer da sua vida
Só escrever e vadiar