Poema de Dandhi
Sou louca de uma loucura inata,
aprendiz de uma vida insensata,
a sombra da madrugada,
correndo os perigos da rua,
perdendo, ganhando, sofrendo, chorando,
fingindo, sorrindo, gritando...
E o gato preto pula o muro,
e eu dou um pulo no escuro,
sem chance pra voltar atrás.
Você desaparece na esquina,
e a cama, agora, é tão vazia,
mas talvez o sono cure
a ferida profunda da alma,
e transforme o desespero em calma.
Sou louca de uma loucura estranha,
que é contra,
que é rebelde,
que é feliz.
E quanta coisa a gente perde sem ver,
e quanta coisa a gente ama e não tem,
e quanta parede, na casa,
perdida sem fotografia,
e quantas palavras riscadas
e nomes rasgados na poesia,
eu sigo correndo as ruas
tentando vencer o absurdo da profecia.
Pois o nada é mais imenso que o infinito,
e a vida não é mais que um processo de morte,
e o seu futuro jamais depende da sorte.
Desenvolve o raciocínio,
atrofia o coração,
evolui o pensamento,
mas se esquece da razão.
Corre o vento,
o vento para,
o vento volta
e você vai embora,
o seu amigo está tão triste,
tão triste que ele chora.
Não dá mais pra parar no tempo,
desviar o pensamento,
você já faz parte de mim,
e você agora é louco de uma loucura exata,
assim, nesse punhal de prata,
quero ouvir o som do seu coração.
E hoje eu vejo que tudo pode ser em vão,
e tudo pode ser melhor,
basta você lutar...
pois a mente pode ser traiçoeira
e pensar em coisas que não te ajudam,
e pensar em coisas que te destroem,
e pensar demais e te deixar cansado
e desiludido com você mesmo.
Não se engane e não se prejudique,
não dê chance pra quem quer te dominar.
Pois só você conhece a sua desgraça,
e é dela que você tira sua alegria,
e o pôr-do-sol elimina o dia,
na esperança de se salvar na noite,
só que a noite é imensa demais,
e se constrói em labirintos,
amando, odiando, vivendo.
A chuva não é mais que estrelas cadentes,
dessas que se pega com as mãos fechadas
e se faz um pedido escondido.
Sou louca de uma loucura clara,
e não tenho medo de nada disto,
e nem medo de parecer ridícula,
e é por isso que não estou como vocês,
sofrendo, odiando, se enganando.
Sou louca de uma loucura clara,
e os outros acham estranho,
e eu acho difícil mudar,
mas não conviver.
Não me importo com esse mundo.
O mundo sou eu quando me lembro
de você e das coisas que me falou,
mesmo naquela tarde de domingo,
nada restou,
grande mentira.
Tudo que passa já deixou marcas demais,
e tudo que se esquece, na verdade,
nunca se lembrou.
A vida não é bem uma brincadeira,
mas a chuva agora cai, tão linda,
e eu me acalmo dessa tortura,
e com a calma não faço nada,
só fico calma.