Carro, o dono de nós
Parece que a cabeça buzina,
Que os carros pensam,
As rodas caminham
E as pernas giram;
Que somos usados
E os carros respeitados.
Nós somos nùmeros,
Eles têm nome.
Comemos porcarias,
Eles não, recebem o melhor;
Carinho, tratamento vip;
Não somos possuidores,
Somos possuídos,
Se não temos um carro
Que também nos tenha
Ou se ele for muito velho,
Já diz a "poeta", é lenha;
Pois somos o tal cara
Do tal carro e coisa e tal...
Eles matam os nossos filhos,
Nossos cachorros,
Nossos gatos, nossos atos;
E os amamos, temos ciúme
Mais dos carros
Que das mulheres,
E elas também, os amam
muito mais do que a nós
Os "homens";
Pois dizem sempre:
"Eu namoro o cara
Do carro fulano"
Não somos mais ciclanos
Nem beltranos.
E os carros são tiranos,
Nossos abam"donos".