COISAS QUE A ESTRADA CONTA...

Euna Britto de Oliveira

www.euna.com.br

O que me bota pra frente não é topada,

É impulso,

Sou de agir por impulso.

Tenho minhas horas devagar...

Pra compensar, sinto impulsos!!!

Não fosse assim,

Eu não progrediria...

Marcaria passo,

Estagnaria.

O dia amanheceu claro e bonito e assim permaneceu,

Com aquela luminosidade que encanta uns estrangeiros, nossos conhecidos...

Decidi que iria ao campo.

Peguei a estrada...

Sozinha e Deus,

Era a música de Grieg que eu ouvia

Enquanto dirigia...

De repente, a estrada passou diante da Loja Camponesa

Onde, vez por outra,

Ele comprava ração para os cães,

Mudas de plantas frutíferas e ornamentais,

Coisas desse gênero,

Que são necessárias em sítios...

Bateu a saudade da saúde dele!

Voltou a certeza da saída dele...

Prossigo...

Da estrada longa

Que leva a São Paulo, a partir de Belo Horizonte,

Só vou utilizar um trecho de 74km.

Curvas e mais curvas!...

Ônibus, caminhões e carretas com que já me acostumei;

Paisagens com que já me familiarizei,

Mas têm sempre um ingrediente novo!

Que paisagem permanece a mesma, todos os dias do ano?

Com as estações,

Vão-se endiabrando...

Nesse dia, especialmente, sinto um particular enlevo

Por causa de um sentimento novo e compensatório

Que me eleva acima da terra!

Estou na terra

E nas nuvens...

A estrada é a mesma

Os viajantes, mesmo sendo os mesmos,

Já não são os mesmos!...

Digo-o por mim mesma.

Mesmo sendo diferentes, dá no mesmo!

São todos carros que passam, anônimos...

Logo no início da viagem,

O lugar onde o cachorrinho preto, pichner, de tamanho médio,

Pulou da carroceria da caminhonete

Sem que o percebêssemos.

Fomos avisados por um dos carros que passava...

Só muito adiante haveria um retorno na movimentada estrada.

Teria o cachorrinho morrido?

Teria sobrevivido e alguém o adotara?

Nunca o soubemos.

Ele tomava decisões inteligentes, sensatas, prudentes, rápidas, práticas.

Se voltássemos,

O que encontraríamos no local da queda do cachorrinho?

Se tivesse morrido – um cadaverzinho.

Se tivesse sobrevivido, não estaria mais lá.

Não voltamos.

Que coisa!

Cada trecho dessa estrada me conta uma coisa!

As montanhas, ao longe,

Formam uma escultura gigantesca:

O macaco e a macaca,

Abraçados...

Abrasados, todos os meus neurônios...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 29/10/2006
Código do texto: T277047