Banco de rodoviária
Há anos, uma mendiga
com um cigarro no canto da boca
sentada nos bancos
puxando assunto com qualquer pessoa por perto.
Parecia meio louca
com olhos distantes
aspecto frio e sofrimento pelo corpo.
Seus cabelos, pelos maus tratos,
eram quebrados e esbranquiçados.
Certas vezes prestei atenção no que dizia seu conto:
Era mal tratada em casa
apanhava do marido
seus filhos sem perspectiva na vida
e a lida consumindo-a sem piedade.
Ali, onde mendigava, sentia-se menos vulnerável.
Agressões e estupros – apenas violências urbanas...
E contava sua trágica história
como fosse o centro do universo.
De seu universo, com certeza!
Quantas chegadas...
Quantas despedidas...
ela presenciou naquela rodoviária.
Tantos amores, desilusões, corações partidos
de idas e vindas quase sempre
programadas por compromissos sociais.
E lá continuava com as mesmas e surradas roupas
sem já falar coisa com coisa
esquecendo-se do que queria dizer...
Pedindo um cigarro pra um
pra outro um café...
Assim levava aquela vida
que em algum instante no passado deu errado
e que de lá pra cá tudo ficou
ou nas sombras ou nos sonhos.
Tornaram-se terríveis pesadelos...
Talvez o parceiro errado
o excesso de copos nos bares
remoendo a vida entre cada tijolo
que colocava nas construções alheias.
Brutais atos sem comandos conscientes
causando fúria social
que sufoca em saber que não há solidariedade
que estamos à mercê
perdidos pelas calçadas
jogados em favelas
estrangulados e exterminados cruelmente
sem nenhum apoio político.
Enfim, frutos dessa sociedade
que empilha pessoas sem futuro.