Escarlate

Escuto as vozes

e os suspiros atrozes

da gente que procura

o que não perdura.

Cores escuras

tingem as molduras

dos soturnos retratos

que se postam como duros fatos.

Os sentimentos já não são fartos,

pois ficaram nos caminhos

que antes eram torvelinhos

de névoas escarlates,

mosaicos de todas as partes.

Épocas e tempos de antes,

de fugidos instantes

que se perderam nas brumas

e nas brancas espumas.

Restei apenas e só.

De posse nada tenho

e nem sei donde venho.

Mas sigo a estrada

até que a Parca irada

corte-me o pavio

dessa vida por um fio.

Nada me disse Delfos,

ou outro oráculo qualquer.

Sigo de encontro ao que vier,

esperando a paz de uma mulher.