Namorados

É a moda: ela estica a voz, tenta parecer manhosa
e prolonga o cumprimento: ummmm beiiiiijo.
Pouca leitura e muita televisão.
Escrava do tempo. Se não for a gordura,
são as rugas que lhe preenchem.
Gostaria de crer que ainda é sexy e desejada,
mas qual, a cada dia sente-se corroída pela idade.

Namora com qualquer sessentão que use óculos escuros
pendurados no peito flácido que a camisa aberta revela.
O casal que soma cento e vinte.
Vitimas dos modernos tempos. Tirana celulite e impotência.
Mas há um novo creme, a química azul que funciona.
Deve ser custoso manter a utopia,
esquecer das articulações, do diabetes e fingir juvenil alegria.

Viajam, dançam e se divertem muito, viu velho rabugento?
É.
E "no depois ", o que será que conversam?
Das dores da idade?
Qual será o assunto?
Planos para o futuro?
Do passado que foi muito maior que o que virá?
Que lembranças terão?
Dos filhos, que agora lhes devolvem os abandonos?
Da tragédia de ter que imaginar sonhos? 

Meus Deus, assim existem porque os publicitários
os criaram. Golen inconsciente.
O que foi feito da gente?