O lampião
O lampião da varanda da casa
(da nona que cochila na poltrona)
ainda ilumina o nada por fazer
e brinca (com a brisa)
de esconder vultos
- vem cá ver:
O lampião
guarda o cadáver
da borboleta
encantada pela lâmpada.
O lampião é um crematório
onde pequenos insetos são aprisionados
e incinerados.
A sombra imprime o desenho no meu braço
do último vôo da borboleta
prata e preta
que esvoaça e morre.
Tempo areia de ampulheta
tempo sombra
tempo areia
escorre...
Alguém passa
(uma sombra triste embaça
um retrato imaginário
de mulher)
e sob a lâmpada
(esquecida no jornal velho) a estampa da
transparência que sempre há-de-haver
na asa seca do cadáver
de uma borboleta
qualquer.