Ainda tenho
Ainda tenho
A idéia oprimida
O vestido rasgado
Ao lado do candeeiro
Na luz refletida
Os olhos da madrugada.
Ainda tenho
Resíduos escorridos
Pelo vão da janela
Em busca de novo espaço
Sem a fuligem dos receios
Laminando meu cansaço.
Ainda tenho
O estatuto guardado
Controlando ações
Alma escondida em fósseis
Inquietadoras cinzas
O sentido enigmático
De meu próprio retrato.
Ainda tenho
A mão leve que acaricia
Conciliado rosto da ternura
A mão forte da bravura
O gosto da fruta doce
Lambuzando o prazer.
O cheiro insano que seja dos planos.
Ainda tenho
A ausência que banaliza
A alegria da presença
Idéia da esperança
Sem a certeza da aliança.
Ainda tenho
A comunhão abortando tristeza
Limpando a alma
Trazendo a leveza
Centrado na possibilidade
De renascer a felicidade.
Ainda tenho
A tragédia da ilusão desfeita
Prendendo atitude
Contrapondo-se...
Faísca que seja de amor
Espantando a confusão
Pressão forte no peito
Abrindo vias...veias...teias... do coração.