Insônia

Insônia

As casas dormem

No silencio da madrugada

Posso sentir o pulsar da vida no seu interior

A rua deserta, meio morta, me fascina

As luzes amareladas vão clareando

Por entre as frondosas quaresmeiras

Formando no asfalto pobre da “Irmãos Terrugem”

Figuras monstruosas que se arrastam pelo chão

Fantasiando minha mente.

As casas dormem

Ao longe um cachorro late

Desencadeando uma sinfonia canina quase eterna

São milhares deles entoando um chamado coletivo

Um apelo único entre os ecos da noite.

A madrugada avança

Os galos cantam a serenata do amanhecer

Uma coruja pia forte na mangueira

Sinto arrepios, temores de mau presságio.

As casas despertam

Lentamente vai surgindo uma claridade

Preguiçosa nas cozinhas adormecidas

O sol acorda com o cheiro forte do café

Almoço preparado, marmita na sacola.

A buzina insistente do caminhão

Alerta para a rotina do canavial

Um garoto remelento espreguiça no portão

Esperando que o leiteiro traga também o pão.

As casas despertam

Explodindo numa cantoria matinal

No rádio o locutor anuncia mais uma melodia

Enquanto repete incansavelmente a hora certa

“Levanta Maria! É hora de começar o seu dia”.

Um papagaio canta parabéns

Sem saber para quem.

A vila desperta

Fecho lentamente os meus olhos

Tentando recuperar o sono

De mais uma noite sem dormir

Não antes de invocar Drummond

“Eta vida besta, meu Deus!”

Perpétua Amorim
Enviado por Perpétua Amorim em 28/10/2006
Código do texto: T275770