Insônia
Insônia
As casas dormem
No silencio da madrugada
Posso sentir o pulsar da vida no seu interior
A rua deserta, meio morta, me fascina
As luzes amareladas vão clareando
Por entre as frondosas quaresmeiras
Formando no asfalto pobre da “Irmãos Terrugem”
Figuras monstruosas que se arrastam pelo chão
Fantasiando minha mente.
As casas dormem
Ao longe um cachorro late
Desencadeando uma sinfonia canina quase eterna
São milhares deles entoando um chamado coletivo
Um apelo único entre os ecos da noite.
A madrugada avança
Os galos cantam a serenata do amanhecer
Uma coruja pia forte na mangueira
Sinto arrepios, temores de mau presságio.
As casas despertam
Lentamente vai surgindo uma claridade
Preguiçosa nas cozinhas adormecidas
O sol acorda com o cheiro forte do café
Almoço preparado, marmita na sacola.
A buzina insistente do caminhão
Alerta para a rotina do canavial
Um garoto remelento espreguiça no portão
Esperando que o leiteiro traga também o pão.
As casas despertam
Explodindo numa cantoria matinal
No rádio o locutor anuncia mais uma melodia
Enquanto repete incansavelmente a hora certa
“Levanta Maria! É hora de começar o seu dia”.
Um papagaio canta parabéns
Sem saber para quem.
A vila desperta
Fecho lentamente os meus olhos
Tentando recuperar o sono
De mais uma noite sem dormir
Não antes de invocar Drummond
“Eta vida besta, meu Deus!”