Lajotas pretas

Passaram-se vinte anos

voltei aquela casa

olhei paredes que gritavam

silencioso eco...

Da porta entreaberta vi um “jogo de luz” frenético

embalado ao som dos Bee Gees

logo foi calado pelo meu ego presente.

Peça fria, inerte, sem vida

assoalho opaco

paredes úmidas...

De tão longe me causam saudades

de um tempo que ficou na inocência

de adolescentes apaixonados

sem saberem que seus futuros estavam tão próximos...

Percalços que a vida lhes guardara...

Entrei no banheiro

olhei as lajotas pretas

ajoelhei.

coloquei a mão no chão...

Como consolo naquele instante,

aquelas lajotas me trouxeram como num afago,

aquela noite em que o coração explodiu de prazer...

Olhares se fizeram sedentos

a respiração ofegante

os desejos incontidos...

Cristalizam-se os amantes por uma vida iniciada

por vontade própria explicitamente compreendidas pelo ser amado

como um prazer imenso

na escolha certa da pessoa errada

em um instante longínquo de todo momento

vividos por vidas passadas

não resolvidas

querendo explorar novos sentidos

pelo prazer de resolver uma paixão ardente.

O passado que no meu dia-a-dia recordo

fez-me chorar ao contato físico com as lajotas...

No espelho, o reflexo de um passado engavetado em minha memória

Esquecido...

Como recordações, sem saber a qual vidas me pertenceram

tudo tão longe... Tão não mais palpável

que confunde a verdadeira origem daquelas lajotas.

JorgeBraga
Enviado por JorgeBraga em 28/01/2011
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