Lajotas pretas
Passaram-se vinte anos
voltei aquela casa
olhei paredes que gritavam
silencioso eco...
Da porta entreaberta vi um “jogo de luz” frenético
embalado ao som dos Bee Gees
logo foi calado pelo meu ego presente.
Peça fria, inerte, sem vida
assoalho opaco
paredes úmidas...
De tão longe me causam saudades
de um tempo que ficou na inocência
de adolescentes apaixonados
sem saberem que seus futuros estavam tão próximos...
Percalços que a vida lhes guardara...
Entrei no banheiro
olhei as lajotas pretas
ajoelhei.
coloquei a mão no chão...
Como consolo naquele instante,
aquelas lajotas me trouxeram como num afago,
aquela noite em que o coração explodiu de prazer...
Olhares se fizeram sedentos
a respiração ofegante
os desejos incontidos...
Cristalizam-se os amantes por uma vida iniciada
por vontade própria explicitamente compreendidas pelo ser amado
como um prazer imenso
na escolha certa da pessoa errada
em um instante longínquo de todo momento
vividos por vidas passadas
não resolvidas
querendo explorar novos sentidos
pelo prazer de resolver uma paixão ardente.
O passado que no meu dia-a-dia recordo
fez-me chorar ao contato físico com as lajotas...
No espelho, o reflexo de um passado engavetado em minha memória
Esquecido...
Como recordações, sem saber a qual vidas me pertenceram
tudo tão longe... Tão não mais palpável
que confunde a verdadeira origem daquelas lajotas.