UM QUADRO DE FRANCESCO FURINI
Bebo e escrevo.
Sonolenta vejo os versos loucos
brincando nos cantos de meu cérebro,
no vestido bege de linho,
no travesseiro,
na garrafa de vinho.
Poemas líquidos dançam como vampiros sedentos,
mas ao escrever
escondem-se (os mais ousados)
na cópia Giges e a alcova do rei Candaulo,
um quadro de Francesco Furini,
pintor barroco y louco (louco pintor barroco)
tão louco quanto eu, ou talvez menos...
O quadro de moldura dourada domina a parede pintada de azul,
a alcova com cortinas vermelhas (pintadas por Furini)
serve de esconderijo aos poemas,
mas se ficar bebendo eles pulam das cortinas,
deambulam pelo quarto
e soltam fortes gargalhadas
entre taças de vinho e lembranças.
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