O INQUILINO E O FUTEBOL
dia bom para ser
um marginal, um vagabundo, um meliante
ou, simplesmente, só um ser desocupado
despreocupado com o relógio
com a chegada da hora
do início da partida.
dia bom para estar
a mercar: - Bandeiras, bancadas e geral!
ou, simplesmente, cambista de xaréu e pule
para os saltos das marquises
pintadas na cor favorita
do radinho de pilha.
dia bom para acordar
a tarde, o fogo, o espeto, o telhado, o gato
pro churrasco com cerveja e caldo-de-cana
no sustento da família por uma semana
aos tropeções dos intervalos
pelos tostões concorridos
dolorido bolso torcedor
paixão mal acabada
baticum e emoção.
dia bom para contar
uma história meio falsa para um talvez juiz:
- Anula o gol não, filha da puta, ladrão!...
Acaba logo o jogo! Cerveja esquentou.
Meu time perdeu e quero mijar
no saquinho dos geladinhos
a perda do campeonato
na torcida adversária
o chope da taça.
dia bom para sairmos
da casa de aluguel atrasado, e, sem rumo
escutaremos o orgasmo afoito
do estádio no grito do gol
na rede do dia vazio
e vadios, qual namorados,
que procuram o silêncio em outro canto
da cidade que, anestesiada, mora no estádio!