A VIÚVA DA AREIA BRANCA

De olhos enxutos,

choravas!...

Teu rosto,

carregado de maresia,

respingava embaçado

o sal no ar

como se buscasse o mar ido pr’outro porto.

Seu tronco de jangada,

forte como os sete paus,

boiou como sargaço nas ondas

depois de dois dias e duas noites

sem braços para nadar

contra as correntes traiçoeiras

marinhas do vento sudeste.

De olhos abismados,

afundavas!...

Teu rosto,

sem mover uma palha,

dormiu nos coqueiros

d’água ao chão

como se esperasse o peixe embarcar no barco.

Sua calma de pôr-do-sol,

às seis, qual ave-maria,

fez sinos rezarem de mãos dadas

na noite em céu de lua escondida

onde, silencioso, o vento

sopra desacomodando a prece

na vela de chama apagada.

Homens do mar não acreditam na tormenta da morte

nem nas viúvas novas das tristes marés de março.

Choravas!

Teus olhos, batizados,

sentiram o carinho do Compadre Manuel,

que te devolveu o gosto da maré-cheia

o calor do sol aos lábios pálidos,

o arranho da areia branca

e as sandálias de prata perdida

por Maria morena

numa noite de temporal.