Desejo derradeiro
Quero meu direito de sofrer
Sentir toda a minha tristeza íntima
Me deixa apreciar a obra-prima
A beleza tenaz e singela da melancolia
Porque é assim que se forma um homem
Várias horas de tédio, revertério e fome
Quem muito se apega a alegria
Acaba pegando alergia
Da face real que tem a vida
Aprendemos a amar ilusões
Bêbados, por fim, escravos
Seja do amado álcool ou de ligeiras emoções
Quem sorri em breve chorará
Quem nasce, não sabe, mas vai ter que matar
Não precisamente com as mãos próprias
Mas com dinheiro, desejo, talvez até por hóstias
É o mal interminável
Que torna o bem admirável
E visível também
Quero aproveitar todas as coisas que se fazem
Enquanto ainda estou encarnado
Só quero viver, viver por inteiro
Esse é o meu desejo derradeiro.