LEITO DE RIO

LEITO DE RIO

sonhos desaguados

nos braços

momentaneamente abertos

me crucificaram

como um delta:

chorei atroz

em sua foz

qual um menino

sem argumento

para o momento

em que nascia

qual um rebento

ao imaginar

vestes já encharcadas

de suores

irremediáveis e em fadiga

descobrindo

sóis e lençóis:

o lenço de boca,

irrequieto,

mordia orelhas e pescoço

enquanto a boca

dava asas à língua

ares para o voar

para beijar

o prazer que míngua

e eterno durará!

quietos, como amados,

lado a lado

inevitáveis e detraídos

desacostumamos

as ventanias:

e a cada duna

um outro lugar

a brincar de olhos na areia

na paz do olhar

sem cisco na vista

aberta ao piscar

num inevitável gozo

perpétuo

chorado na foz do amor!