O POSTE

os postes

ficaram visíveis;

em suas sombras

bêbados não vomitam impropérios

por porre de qualquer palavra à-toa

cachorros não mais urinam impunemente

nem por instinto nem por insanidade.

em seus céus

mariposas tonteiam

qual cabras-cegas

numa tentativa de suicidar a noite

inútil, enquanto os namorados,

recostados, cansados e coitados, atiram

pedras para deixar a luz em solidão.

os postes,

visíveis,

acenderam-se ingratos

na rua

que me viu bêbado de escuro

que me flagrou, sem público, com Madalena

para que o dia, em sol, colhesse todas as pedras

jogadas ao poste,

agora, de concreto.