A PUTA
Me pega
Me leva
Me paga
Me abraça
Me esfrega
Me arranha
Me usa
Me amassa
Me joga no chão
Me bota de lado
e come o meu rabo
Me violenta
Me arrebenta
Me rasga
Me parta ao meio
Me morda o seio
Se satisfaça
E depois
Se desfaça
de mim
Mastiga
Rebaixa
Esculacha
Envenena minha boca
Com beijos vazios
Rasga-me as roupas
Suba em cima
Faça-me carícias loucas
Que tua mulher
nem sequer, imagina
De mim
Não sintas pena
Não faça cena
Não faça assim
Faça como a vida
Que a isso me trouxe
Que quis de mim
Que eu assim fosse
algo assim
algo apenas
a duras penas
apenas algo
Vem sem piedade
Sirva-se a vontade
Usa meu corpo
Como se ele fosse
Propriedade sua
Coma-me crua
Sinta meu gosto amargo
Meus ares de cigarro
Meu cheiro de perfume barato
e solidão
Me fuma
Me traga
Me afaga
E emudece
Me esquece
Me apaga
Me apaga
Da tua memória
Da tua história
De bom cidadão
De bom moço são
De homem trabalhador
De cara respeitador
Deixa o teu suor
no meu corpo usado
e volta pro conforto
dos ares sagrados
do seu respeitável lar
Volta à tua vida pacata
Ao teu morno cotidiano
Regras, morais e planos
Repleto de enganos
fingimentos
e suposto amor
Volta para teu doméstico palco
Onde és magnífico ator
Agora que bem me usaste
Em mim chafurdaste
Como porco faminto
Vá embora
e me deixe partir
A noite ainda é longa
A vida é curta
Me deixe aqui
numa rua qualquer
em qualquer uma rua
sob os olhares da lua
que vê mais do que quer
Vai infeliz! Volta ligeiro
Para os braços da tua
respeitosa esposa
e amada mulher