BAILANDO COM A CHUVA

Lá fora... cai a chuva indiferente

dançando nua, gelada e ondulante

invade-me o seu frio penetrante

e ensopa-se a minha alma lentamente

Baila com a chuva o meu imaginário

a valsa de ontem, memórias esquecidas

rodopiam sonhos, paixões adormecidas

pecados inconfessos, segredos dum diário

É um bailado grotesco, alucinante

vertiginoso, cruel, fantasmagórico

a um só tempo deprimente e eufórico

sombras chinesas numa tela esvoaçante

Lá fora...cai a chuva persistente

já mal a ouço, absorta em devaneio

de alma alagada, mente náufraga, sem freio

meu corpo enrodilhado e indolente

Lá fora... pára a chuva de repente!

E um odor a seiva, a pão, terra molhada

enxuga-me a alma e faz brotar a gargalhada

que devolve à vida o meu corpo já dormente

Nas asas do vento morno o passado foge

do porão da alma eu tranco as escotilhas

mudo o cenário, troco as sapatilhas

e volto para o palco, bailarina de hoje!

(In Antologia Literária/Cenáculo Literário Marquesa de Valverde/2002

Lisboa-Portugal)

ver:

http://geocities.yahoo.com.br/ecos_da_poesia/carmo_vasconcelos.html

http://www.saladepoetas.eti.br/efigenia/amigos_poetas2/portugal.htm

Carmo Vasconcelos
Enviado por Carmo Vasconcelos em 24/06/2005
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