A infeliz consciência.

Antes de acordar você já vestiu as meias,

ao abrir os olhos você já está barbeado.

Na televisão, só vê mortes ou asneiras,

e já está atrasado pro trabalho.

Lutar contra a disparidade social não há maneiras.

É assim que você pensa? Robô globalizado.

E se um pintassilgo lhe emocionar com seu gorjeio,

e se na sinaleira uma criança lhe pedir apenas carinho,

e se você lembrar de quando tinha fome, sua mãe lhe dava o seio,

e se imaginar o seu pai deitado naquele banco ali sozinho?

O pranto toma conta ao ver que o direito a vida é um sorteio,

e o sexo e o beijo anestesiam o seu caminho.

O poeta já escreveu que o mal só se faz soberano,

quando o bem está ausente.

Passa hora, dia, mês e ano,

e a indústria das almas assassinando entes.

E no carnaval você fica saltitando,

bebendo a felicidade em água ardente.

E no domingo você vê o disperdício da liberdade de expressão,

com danças de reto - intestinais sexy’s e úteros sensuais.

Mas para um trabalho de contestação social os manobristas dizem não,

querendo que você e a massa pensem coisas iguais.

Fingir ser feliz talvez seja ingratidão,

mas é a jeito que se tem para acreditar na paz.