[04h52_O Ruído do meu Olhar]
Sobre um mundo sem respostas,
[por que nenhuma resposta responde],
paira uma rala noite minguante.
Sob as luzes rematadamente inúteis,
ringem pneus no asfalto deserto,
avultam, doloridas, as carências
que a velocidade só atiça, só atiça.
E assim, a noite avança...
Entre ruídos de copos,
olhares oblíquos,
bocas sensuais,
e mãos gesticulantes no [ar] vazio,
meus olhos se perdem,
como, de resto, sempre
se perderam nestas e noutras atrações...
O que sou eu, nestas horas,
o que era eu ontem,
o que serei amanhã,
eu que descreio de todo amanhã...
Sou, serei nada, entre outros nadas.
Paro, por que preciso,
pudesse, não parava,
nadava sempre... sempre,
contra a corrente que me leva.
Tenho quase de certeza de que,
por onde anda, onde pousa,
o meu olhar que nem é mágico tem
ou faz algum ruído... será? Seduz...?
Sorrio, pois sei que acontece...
... Também, como posso dar conta
de mim, de tanto desejo,
se meus lábios já se entreabrem?
Olho e penso: essas ideias que tenho...
Ocultas? Não... nem todas.
Mas, que há um ruído no meu olhar,
com certeza há: o meu olhar nunca fica,
ou antes: nunca me deixa impune.
E quem se importa com exageros,
com descabidas sinestesias noturnas...
[Penas do Desterro, 23 de janeiro de 2011]