ÚLTIMAS PALAVRAS

Ó, luz!

Porque ainda

Insistes em clarear-me,

Se há muito,

Emudeci, perdi o brilho,

O desejo de viver e

Fui esquecido nas penumbras

Do abandono amoroso?

Ó, vento!

Lá fora, ouço-o em murmuro;

Uivando solitário, à minha procura,

Num assobio intimidador e traiçoeiro.

Sinto-o zangado por ter sido excluído

Deste meu último momento de lucidez.

Não mais necessito do teu ar.

Ó, amor!

Nunca fizestes nada

Para que eu fosse amado.

Então porque lembrar-me

Dos momentos de ternura

Onde não havia possibilidade

De se concretizar sequer um beijo?

Ó, tristeza!

Quanta afinidade

Tivemos nesta existência !

Pena que a intimidade seja

Interrompida nesta partida

Não anunciada, mas esperada.

Ó, morte!

Chegastes atrasada.

Há muito clamo por tua presença.

Agora já não tens serventia

Para abreviar minha jornada.

Falta-me o ânimo que alimentava

Minha cética fé e regia meus batimentos.

Com dissabor, anuncio meu fim...

Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 24/06/2005
Código do texto: T27463