APRECIAÇÃO - POEMA 114

SER EXALTADO COMO O VELHO E BELO MAR

O SER MAR É ETERNO E NÃO TEM PRESSA.

EU ME FINDO AO TÉRMINO DAS TINTAS

QUEM JÁ NÃO TEVE DELIRIOS NA VIDA ?

O CORAÇÃO POR PAIXÃO, DESEJOS

A ALMA POR UM PEQUENO RECONHECIMENTO.

AS UVAS CLAMAM POR HIDRATAÇÃO.

NÃO ACONTECEU COMIGO. OU ESTÁ A ACONTECER.

QUEM PODE PREVER O GASTO DAS SOLAS.

NÃO PEDI ESMOLAS. NÃO ACONTECEU COMIGO.

E SIM COM TANTOS OUTROS POETAS.

O SEU VERSO SOLTO ESPALHANDO ENXOFRE.

VIVER A POESIA NO POETA MORTO.

VINHO PARA TODOS OS CRITICOS. TODOS OS SÁBIOS.

ODES, ARTIGOS, MISTIFICAÇÕES.

OBRAS DEMORAM MUITO NO TEMPO A SE LEREM.

PARA SEREM DEVIDAMENTE APRECIADAS

NESSE MEIO TEMPO ETERNO, MORRE O POETA

QUE DEPOIS , SANTOS, BEM INTENCIONADOS E IMBECIS

O CULTIVARÃO COMO DIVINO.

ATÉ HÁ UMA GRAÇA NISTO TUDO.

MAS SOA ME MUITO TRISTE TUDO QUE É PÓSTUMO.

DO PÓSTUMO VEM A LOA.

VEM A NAU CARREGADA DE FLORES. VEM O ESQUIFE

NO OMBROS DOS FAMIGERADOS CRÍTICOS.

QUE SABEM ELES DO FEITIO E DO SENTIR POESIAS.

ABSOLUTAMENTE NADA. TEM ELES A ALMA.

MOFADA. ATORDOADA. ABANDONADA!

ARRE! ESTOU FARTO DAS CELESTIAIS HIPOCRISIAS.

QUE SEJAM AS MINHAS POESIAS PARA AS FLORES

SOMENTE AQUELES QUE AO MEU CORPO E VERMES

FARÃO-ME A ÚLTIMA DAS POESIAS, A DA DESPEDIDA

PROFUNDAS E DOCES AMANTES, COMO LIRAS

RECOMPENSAS MERECIDAS AO MEU OFICIO

IGNORANDO O ODOR INUSITADO DA REALIDADE .

DA MORTE QUE EM JÁ SE INSTALA!

MAURICIO DE AZEVEDO

METEMPSICOSES - A ALMA DE FERNANDO PESSOA