[aos que gostam de mim, esse monólogo.]
MEU LIVRE-ARBÍTRIO
Assim, desse jeito,
Eu ficarei na vida!
Sem sistematizações
Que me imponham!
Sem métodos
Que me aconselhem!
Exemplos
Que se me apresentem!
Experiências
Que se não troquem!
Ficarei como sou.
Minha cintilação liberta!
Um ser alado,
Translucidamente colorido,
A esvoaçar por onde me agrade,
Guiada por perfumes que me atraiam,
Sons que me penetrem,
Ao capricho das brisas,
Banhada de raios dourados
E fulgores de prata,
Riscando a curva do arco-da-chuva,
Pousando sobre tufos verdes
E águas cristalinas,
No ventre das bromélias,
Entre hastes de trigo
E girassóis gigantescos!
Dengosa entre braços que me amem
E braços que eu souber amar!
Minha intuição, o mapa.
O amor, minha bússola.
Revolucionada em asas,
Insubmissa a fórmulas
E autoridades espúrias,
À injustiça,
Ao jugo da vaidade e inveja,
Da adulação e migalhas.
Serei minha natureza primeira e nada mais!
Ao longo da longa jornada,
Com ou sem atrasos,
Poucas festas...
Mas inesquecíveis!
Hei de contá-las!
Mesmo nos dias escuros,
Que ganho e crio,
Nos em que me perco
E a solidão me assalta,
Na falta da fé,
No papel de pária.
Nada de maquiagem.
Luto intenso,
Alegria incontida,
Raiva declamada!
Sentimentos íntegros.
A Poesia!
A fiar, pespontar, coser,bordar e rebordar dias, noites,
madrugadas, espaços do tempo em que vago...
Pelo limbo?
Oásis?
Reino de Hades?
Ao amor e à amizade
Rendo-me.
À fala dos humildes e machucados
Também.
À generosidade e à piedade,
Sempre.
A mais nada!
Há palavras que são trapos.
Dilacero-as.
Há palavras que são trajes de gala.
Visto-as.
Estas, como feliz camaleoa,
Rapto-as,
Tropicaliamente,
E agradeço.
Moleca, mulher e senhora, unas.
Pés descalços, peito nu, cabelos ao vento.
Feiticeira, sacerdotisa e operária.
A liberdade é cor-de-rosa.
Ave, ó liberdade!
imagem: arquivo pessoal, s/ref.