As Vozes do Cerrado
"Em nome de todas as plantas -
creiam, somos tantas -
de todas as aves e animais
e também dos minerais ...
Somos habitantes,
neste mundo itinerantes;
temos um grito contido
que precisa ser ouvido.
Há muito tempo passado,
antes do homem haver chegado,
a vida aqui se fez presente
em harmonia com o ambiente.
O ritmo da natureza
seguíamos com certeza -
os encantos do cerrado
eram o nosso aprendizado.
Frente ao homem poderoso,
que avança impetuoso,
somos insignificantes,
meros coadjuvantes.
Sua sede de riqueza
não tem limites de grandeza;
beber a água da nascente,
o verdadeiro nutriente,
é, em sagrado ritual,
na existência o essencial.
Presenciamos estarrecidos
os seus passos ensandecidos -
jazem os solos aniquilados,
em desordem ocupados.
Porém vai um alerta :
amanhã, em hora incerta,
será cobrada a fatura
da insensatez e da loucura.
Por acaso imaginam
que a sentença que assinam
não trará conseqüência
com tamanha violência ?
Destroem a nossa morada,
que para vocês não é nada;
tornaram-se uma ameaça,
que a vida despedaça.
O tempo está escasso,
apressem o seu passo
para o desvairio conter
e no caos não perecer.
Olha-nos com mais amor,
considerem o nosso clamor;
somos os seus antecedentes,
humildes remanescentes,
seres um tanto primitivos
mas que também somos vivos.
Estendam as suas mãos,
abracem os seus irmãos;
estaremos reunidos,
em comum agradecidos,
na vigília solidária
para nova ronda planetária.
Em nome de todas as plantas -
creiam, somos tantas -
de todas as aves e animais,
e também dos minerais ! "
Brasília, 20 de outubro de 1999
(Vejam a mensagem publicada: "O Cerrado")