SAUDADE...

Saudade de infantis e velhas cantigas,

Dos amigos, do jogo de peteca,

E das brincadeiras de rodar o pião.

Saudade de tirar o grão das espigas

E do sabugo fazer uma boneca.

Saudade de soprar bolas de sabão.

Saudade de tocar o dia inteiro

A flautinha de taquara.

Saudade de fazer do miolo de pão

Bolinhas e jogar no terreiro.

Saudade de ver, na manhã clara,

Subir as bolas de sabão.

Saudade de crer em gnomos orelhudos,

De colher, no pé, roxas amoras,

E de esmagá-las como distração.

Saudade de ser curioso e mesmo abelhudo.

Saudade de ouvir: “já pra casa sem demora”,

E de ver sumir as bolas de sabão.

Saudade de espiar no zoológico a serpente,

De acompanhar um pato que nada.

Saudade de pensar ser verdade a ilusão.

Saudade de ver a maninha inocente

Correr desesperada

Atrás das bolas de sabão.

21/01/11.