Assim É

Vejo a estranha forma

que a fumaça se transforma.

Assopro cinza

na patrulha ranzinza.

-Isto haverá de te matar...

-Apenas isso? Todo resto não pode me tocar?

Como seria a solidão sem ele?

Dizem-me que ela é, só por ele.

Que todo resto nem pensaria em me deixar.

Simplórios pensamentos

de simplório sargentos.

A vida lhes é rotina.

Previsível rotina,

até como termina.

Creem na televisão,

ou noutro charlatão.

São retilíneos obedientes

de planos dementes,

como vacas enfileiradas

prestes a serem assassinadas.

Comerão sua carne

no churrasco de sempre.

Também comerão outro corpo eunuco,

no Templo de um Guru maluco.

Assim vivem

os esteios da sociedade

e títeres da sobriedade.

Dormem às vezes, após o frio sexo

e acordam novo dia sem nexo.

Assim vivem

os expoentes sociais,

os considerados normais...

Dormem, acordam.

Acordam, trabalham

e dormem sem sonhos.

É pouco o que tem do Mundo,

e que ocupam no Espaço.

Do Tempo nada tem,

pois vendem-no ao relógio

até que lhes chegue o necrológio.

Dizem bravatas por futebol,

masturbam-se por revistas

e enquanto sonham com carros,

planejam a troca do assoalho

e gargalham pelo baralho.

Assim vivem.

Talvez gostem...