D.América

Euna Britto de Oliveira

www.euna.com.br

Tenho de escrever!

Que jeito?...

As botinas do mundo são duras!

Coturnos diurnos, noturnos, soturnos...

Pesadas pra tanta marcha!!!...

O apelido do filho era “Pezudo”.

Muito negro, muito forte, muito bonito,

Porte atlético, dentes alvíssimos!

Desencaminhou-se...

Dava trabalho para a mãe

E medo para a sociedade.

O irmão, Técnico em Eletrônica,

Morando no Rio de Janeiro,

Bem orientado,

Dava gosto para a mãe

E retorno para a sociedade!...

Muitas vezes, eu a via olhando o mundo

Com olhar perdido, lá longe!...

Pensava na sorte da família...

O filho estudado era casado com uma Enfermeira e lhe dera netos.

O filho “procurado” tinha necessidade de sua proteção, de sua superproteção...

Por ele, ela até mudou de religião!

Era do Candomblé, mãe-de-santo,

De cabeça feita...

Virou Evangélica!

Depois, saiu, pois tentava mudar a realidade

Através de uma religião...

Tentativa válida!

Contava que, quando jovem,

Fora empregada de Tancredo.

Uma vez, foi com eles a Goiânia, de avião...

Já a conheci de idade, ao procurar serviço.

Corpo pesado, entendida de “terreiro”,

Trabalhou em nossa casa e virou minha amiga.

Queria advogado para defender o filho.

Eu era funcionária da Justiça Estadual

E ela cismou que eu era da Polícia!

E, ainda por cima, Promotora.

Fui elevada à Promotoria de Justiça pela ingenuidade de sua alma!...

A última vez que a vi,

Tendo ela vindo visitar-me,

Quis dormir aqui em casa.

Visitou seu antigo quarto...

Mas não dormiu.

Tinha de voltar a casa

Por causa de “Pezudo”.

Estava também com uma certa hemorragia,

Tinha de voltar à Médica que a atendera,

Uns dias antes...

Nunca mais nos vimos!

Sumiu...

Deve ter ido para mais perto de Deus,

Cuidar e interceder pela regeneração de “Pezudo”...

Era uma mulher de muita força espiritual!

Certamente, quando jovem,

Fora forte, de força física também!

Uma vez, espontaneamente,

Fez uma importante profecia para mim...

Aconteceu!

Também me ensinou que Caridade é assim:

A gente faz e vai embora,

Desliga-se daquilo.

Não ficar falando nem alegando o que se faz!

E não é bom falar nos que já partiram...

Raramente falava na filha ida...

Sua sabedoria era assim – ao mesmo tempo inata e adquirida.

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 25/10/2006
Código do texto: T272964