Miragem
Dançam miragens
No horizonte a desertar
Desespero do oásis
Querendo ser engolido
De todo absorvido
Na sede desse olhar.
Afunilada pelo espanto
Salina boca seca
O resto do cântaro
Pela ausência carcomida
Ao relento expandida
Fervilha alma oprimida
No pouco encanto.
A fronte erguida
Sem força pra chamar
Respinga suores regressos
A espera do novo expresso
Que demora tanto a chegar.
Tímida luz do deserto
Embaçando retina
Coberta de areia
Meus olhos palpam
Da terra finos seios
Pequenos celeiros
Rosas que semeio
Sem saber se irão brotar.
Terra rachada
Asas assentadas
Sem olhos d’água
É pele ressequida
É sonho retorcido
Aonde não chega alvorada.
No sertão da cútis revestida
Rubro ancorada
Um ponto nas mãos
Descrevendo o nada.
Rota da vida
Olhar sem direção
Interdição da morada.