Miragem

Dançam miragens

No horizonte a desertar

Desespero do oásis

Querendo ser engolido

De todo absorvido

Na sede desse olhar.

Afunilada pelo espanto

Salina boca seca

O resto do cântaro

Pela ausência carcomida

Ao relento expandida

Fervilha alma oprimida

No pouco encanto.

A fronte erguida

Sem força pra chamar

Respinga suores regressos

A espera do novo expresso

Que demora tanto a chegar.

Tímida luz do deserto

Embaçando retina

Coberta de areia

Meus olhos palpam

Da terra finos seios

Pequenos celeiros

Rosas que semeio

Sem saber se irão brotar.

Terra rachada

Asas assentadas

Sem olhos d’água

É pele ressequida

É sonho retorcido

Aonde não chega alvorada.

No sertão da cútis revestida

Rubro ancorada

Um ponto nas mãos

Descrevendo o nada.

Rota da vida

Olhar sem direção

Interdição da morada.

Lucinda
Enviado por Lucinda em 14/01/2011
Código do texto: T2728362
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