POR QUE POESIA EM TEMPOS DE INDIGÊNCIA

DO LEITO AO FÚNEBRE BERÇO

BUSCA-SE, EM ÂNSIA VIVA,

COM O QUE SE ALIMENTAR.

MAS CADA CÉLULA NUTRIDA

NÃO CHEGA A SAGRAR-SE VIDA

SE A ALMA NÃO SE COMPLETAR.

É PRECISO DIETA CONSTANTE

DE FARTOS VERSOS ERRANTES

OU CEIA DE PURO AMOR

REGADAS DE ETÉREOS SONHOS

EM DOSE BEM SALUTAR,

PARA QUE, ALIMENTANDO O CORPO,

TAMBÉM SUSTENTEO CERNE

DE UM SER CAPAZ DE LUTAR.

É NOTÓRIA A RELAÇÃO

ENTRE CRIAR E SOFRER

QUANDO SE PÕE NUMA CANÇÃO

AS DORES, O PADECER.

E CADA NOTA ESPALHADA

FAZ, EM OUTRO PEITO, MORADA

SEMEANDO BEM-QUERER.

A POESIA TAMBÉM

SE FAZ PORTA VOZ BEM SAGAZ

NAS LETRAS DE HIP-HOP

QUE A PERIFERIA TRAZ

LEVANTANDO QUESTIONAMENTOS

SOBRE PROBLEMAS SOCIAIS.

NA LITERATURA DE CORDEL,

NO CANCIONEIRO POPULAR,

A POESIA VEM, NA VERDADE,

TENTAR TRAZER FELICIDADE

PRA QUEM QUER DESABAFAR.

NÃO HÁ, POIS, POESIA

NUMA CANTIGA DE NINAR

DA MÃE, COM O FILHO A DORMIR

PARA A FOME DESPISTAR?

OU NÃO É POETA O PAI

QUE ESCOLHE PRA SERMÃO

PALAVRAS QUE CONVENÇAM O FILHO

DA IMPORTÂNCIA DA UNIÃO,

DE SER HONESTO, TRABALHADOR,

MESMO QUE O MUNDO LHE DIGA “NÃO”?

OU, QUEM SABE, A POESIA

NÃO ESTARIA A SE ESCONDER

EM CADA OLHAR DE CRIANÇA

QUE NÃO TEM O QUE COMER

MAS QUE REAPARECE E BRILHA

QUANDO DESPONTA A ESPERANÇA

DE QUE TUDO ISSO, UM DIA,

NÃO PASSE DE AMARGA LEMBRANÇA?

POIS É ASSIM QUE A POESIA

SE FAZ METAMORFOSE:

CONFIDENTE,

PORTA-VOZ,

CANÇÃO,

ALIMENTO.

E MESMO EM TEMPOS DE INDIGÊNCIA

É A SUMA REPRESENTAÇÃO

DE TODO E QUALQUER SENTIMENTO.

J C Queiroz
Enviado por J C Queiroz em 14/01/2011
Código do texto: T2728071
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