POR QUE POESIA EM TEMPOS DE INDIGÊNCIA
DO LEITO AO FÚNEBRE BERÇO
BUSCA-SE, EM ÂNSIA VIVA,
COM O QUE SE ALIMENTAR.
MAS CADA CÉLULA NUTRIDA
NÃO CHEGA A SAGRAR-SE VIDA
SE A ALMA NÃO SE COMPLETAR.
É PRECISO DIETA CONSTANTE
DE FARTOS VERSOS ERRANTES
OU CEIA DE PURO AMOR
REGADAS DE ETÉREOS SONHOS
EM DOSE BEM SALUTAR,
PARA QUE, ALIMENTANDO O CORPO,
TAMBÉM SUSTENTEO CERNE
DE UM SER CAPAZ DE LUTAR.
É NOTÓRIA A RELAÇÃO
ENTRE CRIAR E SOFRER
QUANDO SE PÕE NUMA CANÇÃO
AS DORES, O PADECER.
E CADA NOTA ESPALHADA
FAZ, EM OUTRO PEITO, MORADA
SEMEANDO BEM-QUERER.
A POESIA TAMBÉM
SE FAZ PORTA VOZ BEM SAGAZ
NAS LETRAS DE HIP-HOP
QUE A PERIFERIA TRAZ
LEVANTANDO QUESTIONAMENTOS
SOBRE PROBLEMAS SOCIAIS.
NA LITERATURA DE CORDEL,
NO CANCIONEIRO POPULAR,
A POESIA VEM, NA VERDADE,
TENTAR TRAZER FELICIDADE
PRA QUEM QUER DESABAFAR.
NÃO HÁ, POIS, POESIA
NUMA CANTIGA DE NINAR
DA MÃE, COM O FILHO A DORMIR
PARA A FOME DESPISTAR?
OU NÃO É POETA O PAI
QUE ESCOLHE PRA SERMÃO
PALAVRAS QUE CONVENÇAM O FILHO
DA IMPORTÂNCIA DA UNIÃO,
DE SER HONESTO, TRABALHADOR,
MESMO QUE O MUNDO LHE DIGA “NÃO”?
OU, QUEM SABE, A POESIA
NÃO ESTARIA A SE ESCONDER
EM CADA OLHAR DE CRIANÇA
QUE NÃO TEM O QUE COMER
MAS QUE REAPARECE E BRILHA
QUANDO DESPONTA A ESPERANÇA
DE QUE TUDO ISSO, UM DIA,
NÃO PASSE DE AMARGA LEMBRANÇA?
POIS É ASSIM QUE A POESIA
SE FAZ METAMORFOSE:
CONFIDENTE,
PORTA-VOZ,
CANÇÃO,
ALIMENTO.
E MESMO EM TEMPOS DE INDIGÊNCIA
É A SUMA REPRESENTAÇÃO
DE TODO E QUALQUER SENTIMENTO.