Geração do Cerrado

Construiu-se Brasília

Em meio de aflição

Era nossa família

Dentro de um caminhão

A poeira subia

E o povo sofria

Ah, que agonia!

E Brasília se erguia...

Nas vilas e favelas

Nossos avós diziam

Para encher suas panelas

Muito padeciam...

Aconteceu a inauguração

O que fazer com esse povão?

A esperança não morreu

E Ceilândia cresceu

Sem vestir e sem comer

Só tinha uma árvore desfolhada

Que debaixo se abrigava

Os destinados a sofrer

Naquele pobre cerrado

Aquele povo isolado

Quando a poeira não sufocava

A chuva ou a lama afogava

Trabalhar de noite e dia

Sem pensar na educação

A meninada emagrecia

Ai que dor no coração!

A capital da esperança

Pouco tinha opinião

Estava só na lembrança

Os autores da revolução

A elite estava segura

E solta a exploração

Como pensar em bravura

Sem ter nenhum tostão?

A meninada crescia

Atrás da vida corria

Lá vem o flanelinha

Com seu rodinho de mão

Foi assim que a molecada

Aprendeu a escrever

E depois de no emprego dentro

Aparece o casamento

Vêm mais filhos

Vem mais gente

Só que agora mais contente...

Depois de muita amargura

E lutar pela vida dura

Puderam dar aos seus filhos

Uma melhor educação

A segunda geração

É a primeira na opinião

A que teve tempo para estudar

E também de questionar

Brasília se transforma

Muitos querem a reforma

E no grande cerrado...

Sente-se o cheiro de revolução

Carlos Drummond disse

Que lutar com palavras

É a luta mais vã

No entanto, lutaremos

Enquanto houver amanhã...