ANDANÇAS

ANDANÇAS

Lílian Maial

Ando confusa de nuvens.

Penso doces recheados de teias.

Questiono a sanidade das manhãs.

Quero a liberdade do ventre

E a inconseqüência dos sonhos.

Ando com o cansaço das árvores.

Caminho passos de seqüela.

Questiono a trajetória dos homens.

Quero a paz do mato, o cheiro de hoje,

E a premência das cidades.

Ando irada com as mágoas todas.

Relembro estações e trilhos.

Questiono o vôo dos pássaros.

Quero o grito travado

E as lágrimas que evaporaram.

Ando tanto, sem lugar ou tempo.

Vejo-me finita e crédula.

Questiono a imortalidade da espécie.

Quero o gen, o vintém, qualquer esmola,

E o tempo sonegado pela ilusão de felicidade.

Ando, como sempre andei.

Vaguei.

Melhor andar, questionar, pensar,

Do que querer.

Melhor não ver, não saber, ignorar.

Melhor andar.

Lílian Maial

24/10/06