CACTO

Inúmeras secas

Enchentes venenosas

Fecharam cidades

Abriram feridas

Doloridas como fogo

Que nenhum rio

A chama do coração apaga

Uma enxurrada de dor

Expulsaram da face o riso

Ontem esperança e fartura

Hoje, do sertão nada mais é

Do que feto sem criatura

Sem traços de vida, nem caricatura

Esta própria ridícula de comovente

Mas ainda resta, portanto, uma rosa exalando

Um perfume louco, assim como se suas pétalas

Tivessem sido arrancadas de alguma roseira nuclear

E tragicamente marcasse o fim de toda esta história

De heroísmo estúpido de patriota sem pátria

Ao canto do poente a multidão se recolhe

Como em oração, sendo o silêncio tão forte

Impossível de guardar na alma

Sem que a vida retorne canção

O cacto talvez seja a última lembrança

À cada poente, em cada pensamento de que

No agreste houve gente, devorada pelo tempo

Reunida agora em cantigas de sofrimento.

BARUC
Enviado por BARUC em 11/01/2011
Código do texto: T2722151
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