Blues a tarde ( com flauta doce...)

Blues a tarde ( com flauta doce...)

Pausa à tarde ecoa flauta doce

Pelos canteiros da avenida

Brilha um alecrim-de-angola distraído

O charuto cubano mantém-me sóbrio

Apesar do cheiro de anis,

(não aspiro à pressa dos prédios e dos homens)

Os elevadores presos no subsolo

Deixa-me com sensação de liberdade e improviso

(lembra-me blues, solos de blues)

Ainda tenho uma ampulheta,

Uma estatueta de louça

Fotos onde amarelam sorrisos brancos de tantos amigos

(todos ali estáticos como se não houvessem partido)

Um sax americano dos anos sessenta

E alguns selos antigos

(o camelô da esquina vendia-me até sonhos...)

mas o charuto cubano é legítimo

essa lágrima que verte sozinha, é legitima

o verso que hoje não escrevi

fez-se por si e é legítimo

e essa pausa na tarde que ecoa flauta doce,

faz o sol pôr-se em mim, sol em mim

solos de blues,

solos de blues,

solos de mim...

Tonho França.

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Tonho França
Enviado por Tonho França em 24/10/2006
Código do texto: T272175