TARDE

da janela de minha casa

vejo o mundo

vejo alice

que vai alegre e volta triste

todos os dias

para algum lugar onde meus olhos não alcançam

vejo heitor

que nada sabe de filosofia

mas caminha assobiando pela avenida

como se tivesse encontrado

antigos tratados esquecidos pelos homens

a respeito dessa utopia chamada felicidade

da janela do meu quarto

vejo maria

que carrega no ventre seu filho

e nos olhos a solidão de uma sala de baile

vazia

e vejo também

pessoas que conheço apenas de vista

mas que me são familiares

rostos conhecidos

que muito bem poderiam sentar-se comigo à mesa

para tomarmos vinho

comermos queijo

e ficarmos a tarde toda falando do tempo

esse tempo cruel como uma torquês

impiedoso feito um bisturi

que nos leva na sua garupa

a todos e a tudo

sem exceção

ao encontro do pó

e da paz

José Martino
Enviado por José Martino em 24/10/2006
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