TARDE
da janela de minha casa
vejo o mundo
vejo alice
que vai alegre e volta triste
todos os dias
para algum lugar onde meus olhos não alcançam
vejo heitor
que nada sabe de filosofia
mas caminha assobiando pela avenida
como se tivesse encontrado
antigos tratados esquecidos pelos homens
a respeito dessa utopia chamada felicidade
da janela do meu quarto
vejo maria
que carrega no ventre seu filho
e nos olhos a solidão de uma sala de baile
vazia
e vejo também
pessoas que conheço apenas de vista
mas que me são familiares
rostos conhecidos
que muito bem poderiam sentar-se comigo à mesa
para tomarmos vinho
comermos queijo
e ficarmos a tarde toda falando do tempo
esse tempo cruel como uma torquês
impiedoso feito um bisturi
que nos leva na sua garupa
a todos e a tudo
sem exceção
ao encontro do pó
e da paz